Sobre diversos pretextos assistimos a uma invasão do mundo virtual nas nossas casas, mas não só.
Entre os 10 anos e a fase adulta, o cérebro realiza uma transformação com maior incidência nas áreas associadas às emoções e depois nas responsáveis pelo pensamento e tomada de decisão. Esta evolução é lenta, tornando o equilíbrio entre as duas, ténue e frágil. Este desequilíbrio é o grande responsável pela (in) consciência do impacto e das consequências de uma ação nesta fase. Ora, este é o aspeto mais perigoso aquando da utilização não supervisionada nem regulada das tecnologias.
O acesso à internet permitiu a descoberta de uma enorme quantidade de conhecimento e a curiosidade passou a ser alimentada através de um click. Contudo, esta abertura rápida e ilimitada expõe, quem a ela recorre, a uma sobrestimulação informativa por vezes de difícil elaboração do ponto de vista cognitivo e emocional. Esta exposição poderá conduzir a uma distorção da realidade porque é indevidamente interpretada. Para que a utilização seja positiva para a criança/adolescente é importante que o adulto monitorize e acompanhe a utilização que a criança faz.
Outra das mais-valias, vivida até durante a época de pandemia, é a proximidade que as tecnologias trazem a quem está longe e isolado. As chamadas, as videochamadas, os jogos em conjunto são alguns dos exemplos de como a internet e as tecnologias podem criar proximidade. Ainda assim, é importante não esquecer que para um bom desenvolvimento precisamos do contacto (físico e próximo) com os outros. Só desta forma poderemos desenvolver a empatia, a autorregulação das emoções e a capacidade para adiar uma recompensa. Todas exigem momentos de aprendizagem (ativas e espontâneas) que devem ser acompanhados de (auto)reflexão e introspeção. Só a vivência permitirá experimentar as competências de forma progressivamente mais assertiva.
A forma (controlada ou não) como educamos para a utilização das tecnologias repercute-se no desenvolvimento da autorregulação das emoções. Ao proporcionarmos um ambiente contentor (regulado e supervisionado) estamos a apoiar a abertura de espaço para a reflexão e introspeção, essenciais ao desenvolvimento socio-emocional. A capacidade para adequar a utilização das tecnologias em conformidade com os contextos e momentos e o limite de acesso à navegação fornece à criança e adolescente uma linha organizadora e estruturante ao desenvolvimento. O apoiar que a criança (e por vezes, os pais) adie(m) a resolução de uma situação ou confronto verbal promove a definição de estratégias mais adequadas ao diálogo e a recentração da resolução em valores que acreditamos serem essenciais à vida, que queremos transmitir e viver. Ao invés, um ambiente não controlado, abre espaço à impulsividade de ação, gerando situações que são destrutivas e lesivas social e emocionalmente.
Permitir-se desligar do estar ligado dá espaço à maturação das ideias, promove o convívio social saudável, não intenso e sôfrego, permite o errar e o “perdoar” próprias do desenvolvimento, porque o tempo “arrefece” as emoções e ajuda por isso, a focar no essencial. Nesse sentido, recomendamos que:
– Procure dar sempre o exemplo de uma utilização saudável e equilibrada das tecnologias, alinhando estratégias com os restantes elementos familiares significativos;
– Monitorize com regularidade o telemóvel dos seus filhos: defina com eles as palavras passes, faça uma revisão regular ao telemóvel/ computador;
– Defina tempos e rotinas para a utilização diária das tecnologias;
– Elejam um local onde possam ficar todos os telemóveis em casa;
– Regule de forma partilhada a utilização das tecnologias.
Utilizemos as tecnologias enquanto elas nos proporcionarem proximidade, diversão e crescimento e saibamos prescindir delas na medida em que elas forem prejudiciais ao desenvolvimento e formação pessoal.
Margarida Ribeiro | Psicóloga do GAP do CPE