A demência é uma doença comum nos idosos. Todavia, o conhecimento sobre como a doença se manifesta ainda permanece uma incógnita para muitos cuidadores. As perdas progressivas das funções cognitivas manifestam-se ao nível da memória, linguagem, raciocínio, noção de tempo e espaço, adequação do comportamento social, realização das atividades de vida diárias, capacidade de tomar decisões, entre outros. Viver diariamente com a pessoa com demência implica vivenciar estas perdas, fazer o luto de quem se conhecia e conhecer esta nova pessoa, cuidar deste outro, mas também cuidar de si, o que muitas vezes passa para segundo plano. Ninguém está preparado para as emoções intensas que surgem no viver do dia a dia com o familiar com demência, que vai perdendo as suas capacidades funcionais e perdendo-se de quem é, de quem foi, da sua história.
Surge a sobrecarga, a culpa, a impotência, o desespero. E o que se faz agora?
Pedir ajuda. Tudo tem limites e o cuidar não é exceção. É importante conhecer os próprios limites e pedir ajuda quando se precisa.
Conhecer as manifestações da doença não prepara o cuidador a 100%, não previne a sobrecarga do cuidador, mas ajuda-o a conhecer esta nova pessoa, os seus comportamentos, a separar a pessoa da doença, a perceber as suas necessidades e a adaptar o seu próprio comportamento. Saber o que é a doença, como se manifesta, permite dar um sentido aos comportamentos da pessoa com demência. Mas também é preciso saber o que se pode fazer. É aqui que a intervenção psicológica assume um papel importante através da psicoeducação sobre a demência, trabalhando-se com o cuidador estratégias de comunicação, resolução de problemas e relaxamento.
A par desta psicoeducação é necessário dar sentido ao tumulto de emoções vividas no processo de cuidar, outro foco da intervenção psicológica. É fundamental a existência de um espaço para o cuidador, um espaço que é seu, onde possa falar sobre o que sente. Neste espaço, o cuidador pensa e reflete sobre a sua história familiar e relacional com a pessoa de quem cuida, muitas vezes com inversão dos papéis (ex., filhos cuidadores dos pais) ou repetição do papel de cuidador, permitindo compreender e atribuir significado aos seus comportamentos ou dificuldades sentidas na relação com a pessoa cuidada (ex., sentimento de culpa por falta de paciência ou dificuldade em ser mais afetivo). Trabalha-se, ainda, o luto da pessoa que se conhecia antes da demência, separando a pessoa da doença.
No Centro Paroquial do Estoril existe a possibilidade de um apoio individual para o cuidador e também um grupo de suporte. Para mais informações podem enviar um email para psicologia@cpestoril.pt
Inês Silva
Psicóloga do Gabinete Psicologia CPE