As imagens sociais são crenças, positivas ou negativas, partilhadas sobre um determinado grupo, que prevalecem sem terem qualquer tipo de evidência ou veracidade (Corsini, 1999), consistem na atribuição de determinadas características, valores e padrões de comportamento a um grupo ou membros desse grupo (Corsini, 1999), tornando-se como construções sociais resistentes à mudança que influenciam o pensamento e a ação dos indivíduos (Casas, 2010). Especificamente, no que diz respeito às imagens sociais negativas associadas às crianças e jovens em acolhimento residencial, é importante alertar para o potencial impacto negativo que estas podem assumir.
A maioria das crianças/jovens em acolhimento residencial são adolescentes, sendo esta uma fase de desenvolvimento caraterizada pela definição e consolidação dos processos de identidade (Erikson, 1968). Neste sentido, estas imagens sociais podem ter um impacto negativo na construção de identidade e no bem-estar dos seus alvos (Arpini, 2003).
Assim, os jovens em acolhimento residencial podem apresentar dificuldades no desenvolvimento e construção identitária decorrentes de diferentes variáveis relacionadas com o acolhimento residencial, nomeadamente, a estrutura da casa de acolhimento, o estatuto diminuído das crianças/jovens em acolhimento residencial e os estereótipos que existem sobre eles (Garrido et al., 2016). Estes estereótipos assentam em imagens sociais negativas a diferentes níveis: comportamental, emocional, social, cognitivo, educacional, profissional e económico (Garrido et al., 2016). De facto, os atributos usados para descrever crianças e jovens em acolhimento são na sua maioria negativos, ao nível comportamental (agressivos), emocional (tristes) e social (solitários), transmitindo a ideia das crianças como vítimas e recebedoras de cuidados (Calheiros et al., 2015) revelando-se assim vulneráveis, revoltadas ou traumatizadas (Wendt, Duliius & Dell’Aglio, 2017). Neste sentido, é importante termos sempre presente que existem valores e crenças relativas a determinados contextos sociais, históricos e culturais cuja prevalência irá prejudicar as interações e o processo de reintegração destas crianças e jovens nas suas famílias.
Maria Inês Feliciano
Psicóloga do CAFAP do CPE