“Os idosos são os verdadeiros “guardiões da memória coletiva” portanto são os responsáveis pela transmissão dos “ideais e valores humanos”, João Paulo II
Desde que o Homem existe, que se distingue de todos os outros animais pela sua capacidade de adaptação. Ainda hoje, quando nos deparamos com algum tipo de adversidade, temos a capacidade de encontrar respostas diferentes e de nos moldarmos às necessidades que nos aparecem.
Esta competência adaptativa está intrinsecamente ligada ao conceito de plasticidade cerebral, que se define pela capacidade que o nosso cérebro tem de se reajustar em função das experiências de cada um, nomeadamente em situação de AVC, demências, refazendo as suas ligações neuronais de acordo com as necessidades e fatores do meio ambiente.
Atualmente, devido a inúmeros estudos já elaborados, é possível verificar que o cérebro é um órgão muito mais maleável do que até então se imaginava, que se modifica de acordo com as nossas experiências, da nossa perceção da vida, das nossas ações e comportamentos.
Deste modo, podemos referir que a relação que o ser humano estabelece com o meio produz grandes modificações no seu cérebro, permitindo uma constante adaptação e aprendizagem ao longo de toda a vida. Também o processo de plasticidade cerebral torna o ser humano mais eficaz na medida em que também permite a recuperação de certas funções, dependendo de alguns fatores, como a idade da pessoa, a área da lesão, assim como outros fatores ambientais e psicossociais.
Aqui no CPE, nas respostas de Centro de Dia e Serviço de Apoio Domiciliário, procuramos ser promotores de mudança por isso temos por base a noção de envelhecimento ativo, que segundo a Organização Mundial da Saúde se baseia no processo de otimização das oportunidades para a saúde, participação e segurança, por forma a melhorar a qualidade de vida das pessoas que envelhecem.
É cada vez mais importante mudar a imagem que se criou da pessoa idosa, e que ainda prevalece, e vê-los antes como agentes indispensáveis de uma sociedade que tentamos que seja cada vez mais inclusiva, participativa, ativa e saudável. Envelhecer não é algo negativo, mas sim um processo natural que caracteriza mais uma etapa da nossa vida, e que se caracteriza por várias mudanças físicas, psicológicas e sociais, particulares e diferentes para cada pessoa.
Criámos uma equipa multidisciplinar, que todos os dias tem como principal objetivo assegurar as necessidades básicas dos nossos utentes, prestando o apoio necessário e adequado às limitações de cada um. Seja através da psicologia, da fisioterapia, da terapia ocupacional (entre outras) trabalhamos competências que promovam o bem-estar no outro.
Na área da Psicologia, são vários os estudos que vêm comprovar os efeitos positivos da estimulação cognitiva na diminuição da sintomatologia depressiva, na prevenção/atraso de quadros demenciais, na manutenção da autonomia dos idosos. Apesar da idade avançada, a tal plasticidade cerebral que possuímos permite, quase sempre, que seja feito um trabalho de manutenção/retardamento de competências cognitivas, tendo sempre em conta as competências de cada um. Apostamos, acima de tudo, nas pessoas, sejam elas utentes ou membros da vasta equipa que é o CPE, desenvolvendo também vários projetos intergeracionais com os nossos alunos. Seja num registo mais individual ou num momento mais lúdico, é sempre enriquecedor para quem dá e recebe.
Sendo possível fazer este trabalho, podemos ser participantes ativos nestas mudanças, passando assim a encarar este aumento da esperança média de vida, com saúde e independência, como uma oportunidade e um objetivo a atingir.
Vera Cabral
Psicóloga do Gabinete de Psicologia CPE