De que modo podemos promover na criança o desenvolvimento da consciência de si próprio, do outro, do que a rodeia e das consequências das suas ações?
Como promover a construção de uma visão própria e crítica do mundo?
Mais, será possível estimular simultaneamente estas capacidades e outras, tais como motricidade, atenção, criatividade ou socialização?
Não havendo respostas certas ou erradas, deixo aqui a sugestão de algo antigo, cujo nome deriva do latim e que significa “criar laços”, replicado ao longo de muitas gerações, por várias espécies e que resulta sempre: brincar!
Parece óbvio, mas a realidade é avassaladora. Num estudo realizado em 2016, em 10 países do continente Europeu, Americano, Africano e Asiático, percebeu-se que 56% das crianças passa uma hora ou menos a brincar ao ar livre e que, em média, passam 50% do seu tempo em frente a um ecrã. Muito se tem falado sobre benefícios e malefícios da utilização de ecrãs. No entanto, parece explicar-se menos aos pais, os benefícios de brincar ao ar livre.
Brincar lá fora e de forma não estruturada traz liberdade à infância, uma liberdade agida, sentida e refletida, que nos permite correr riscos motores, emocionais, cognitivos e sociais. Assim, aprendemos que só pela persistência podemos aprender e agir de forma mais complexa. Afinal, só quem cai, pode levantar-se e continuar a brincar. Neste ponto, temos que estar conscientes de que a cultura de excessiva proteção, tem como consequência descrita uma imaturidade motora impactante no desenvolvimento.
Neste contexto, é importante perceber que é normal a criança:
- Ter vontade de praticar atividades nas quais se confronte com o espaço – trepar, balançar, escorregar;
- Gostar de atividades em que o meio seja mais imprevisível – saltar para uma piscina, pular num trampolim, aprender a andar de trotineta;
- Fazer jogos corporais e simbólicos, que exijam controlo motor e risco – fazer jogos de perseguição e luta, fazer jogos de acrobacias;
- Necessitar de ser livre de escolher as suas brincadeiras, que cumpram o seu tempo, a sua intensidade, as suas regras.
No estudo referido anteriormente, dois terços dos Pais, identificavam ter brincado mais ao ar livre que os seus filhos e 93% acreditavam que tal pode ter consequências na aprendizagem.
De forma consciente e informada, está principalmente nas nossas mãos, disponibilizar à criança um contexto físico e simbólico que possibilite um espaço de movimento interno e externo que torne cada um mais seguro e autónomo. Um espaço de descoberta criativa, que só é possível no movimento, no tédio e na liberdade.
Cátia Sacadura
Psicomotricista (Educação Especial)