As crianças e os jovens são aqueles que mais usam as novas tecnologias, encontrando-se por isso, em risco de desenvolverem um uso excessivo. Este uso excessivo consiste num envolvimento persistente, intenso e sem controlo, que resulta numa redução dos interesses noutras áreas por parte da criança ou do jovem.
Novos estudos indicam que, com o problema das dependências online, surgiu um fenómeno – a co-dependência. Os pais que recorrem aos ecrãs de modo a controlar o comportamento dos filhos, fazem-no a fim de não transparecerem esta problemática da dependência para o exterior: este é um exemplo clássico da codependência. As ferramentas tecnológicas são, por norma, utilizadas como “babysitter” com o objetivo de ocupar um espaço muito importante na gestão familiar diária, que pode prevenir birras e aborrecimentos, traduzido frequentemente no “não tenho nada para fazer”.
Muitas famílias partilham esta preocupação do uso excessivo das tecnologias. Os relatos incidem no uso excessivo de aplicações, jogos, redes sociais, visitas a sites, da permanência do contacto com o online e na insistência de ser e existir apenas dessa forma, só com o virtual.
A família tem um papel fundamental no crescimento das crianças e jovens, nomeadamente na determinação e organização da personalidade, além de influenciar significativamente no comportamento, através de ações e medidas educativas e formativas. Esta é a primeira estrutura relacional que se conhece, funciona como modelo de aprendizagem e base reguladora para os comportamentos.
Neste sentido quando existe baixa coesão familiar, inconsistência face às regras dos comportamentos online e baixa diferenciação, poderá estar presente o fenómeno da co-dependência.
Entende-se que as dependências online são um problema das famílias e não só do indivíduo e que a intervenção passa por todos, tornando a intervenção familiar necessária e eficaz. Contudo, as famílias deverão ter como sinais de alerta: o isolamento social, dificuldades relacionais, falta de rede social (amigos), alterações comportamentais, ausência de projeto de vida e o absentismo escolar.
Na intervenção familiar surge a proposta de gerir o consumo do online, através da redução do número de horas, ao invés do corte total de uso das tecnologias. A redução do número de horas, dever-se-á acompanhar de uma supervisão e partilha de conteúdos alternativos por parte da família. Esta é uma estratégia que visa procurar soluções e confiança na mudança.
Uma questão que a família deve colocar a si própria é como é que estaria sem o problema em causa (neste caso, a dependência online no jovem). Com isso surge uma auto-análise reveladora de soluções e das capacidades de cada família começar a reagir. Esta questão coloca de forma clara o fenómeno da co-dependência.
Para gerir o comportamento online em família, aconselhamos:
(1) a negociação do acesso e uso das tecnologias, para todos os membros, com o objetivo de delinear regras, limites, exceções e consequências;
(2) a supervisão do acesso e uso das tecnologias definindo quem e como é feita a supervisão do número de horas online e do conteúdo;
(3) promover o encontro da tecnologia em locais e momentos específicos (e.g. reunir todos os aparelhos numa divisão específica e definir apenas um momento no dia, como o pós trabalhos-de-casa para aceder às tecnologias num período de tempo ponderado);
(4) promoção de atividades sem tecnologia (e.g. ida ao parque, andar de bicicleta) e organização de um dia sem tecnologias em substituição de um dia de programas em família;
(5) associar o uso das TIC à realidade e a momentos culturais (e.g. visitas guiadas a museus de forma virtual e depois presencial);
(6) utilizar as TIC como recompensa para comportamentos adequados e não como a única forma de reforço positivo;
(7) promover uma visão crítica sobre o comportamento e os consumos online, de forma a favorecer a auto-regulação de comportamento.
Entende-se que as famílias que encontram dificuldades na gestão do online dever-se-ão seguir pelos seguintes passos:
(1) identificar;
(2) aconselhar;
(3) delimitar;
(4) conversar.
O primeiro é identificar o problema existente (neste caso, a dependência online na família), o segundo é o aconselhamento em família com um especialista, o terceiro, a delimitação de barreiras e regras à utilização das TIC e o último promover o diálogo e a partilha sobre a utilização das tecnologias, criando sentido crítico sobre o tema nas crianças e adolescentes.
Maria Silva
Psicóloga Estagiária do GAP