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A Horta e o Processo Terapêutico

Uma horta nasce da terra, de uma terra com nutrientes, de uma terra cuidada que se prepara para acolher as sementes, as sementes que, se o vento e a água deixarem, se vão infiltrar na terra e criar raízes. Com tempo, as alfaces crescem, devagarinho, sem pressa, como são, como têm de ser. E crescem tanto melhor, quanto melhor cuidadas forem pela mão do Homem. Com carinho, compreensão, paciência, cuidado, alimento. Os tomates também crescem da mesma forma, mas precisam de estacas que os orientem no seu crescimento. São elas que lhes dão sustento e que lhes mostram a sua direcção, mesmo que eles possam decidir por onde ir, como “trepar”, onde ter frutos. Numa horta, brotam frutos e legumes, mais ou menos saudáveis e equilibrados dependendo de variados fatores, alguns já referidos, outros, como as condições atmosféricas (o sol, o vento e a chuva), que podem ser benéficos e ajudar ao crescimento ou podem ser um bloqueio. A horta desenvolve-se ainda num espaço contido, um espaço que a permite crescer, mas que a contem. Na horta tudo cresce sem forçar. Com tempo e paciência. Sem pressa. Ao seu ritmo.

O processo terapêutico acontece como uma horta. Nasce da sua própria terra (história de vida de todos os intervenientes, trauma passado, valores, crenças…) já definida, mas com margem para que se consigam acrescentar ainda mais nutrientes (relação terapêutica cuidada, calorosa, empática, genuína, não directiva, aceitante). Inicia-se quando se lançam as primeiras sementes (compreensão do problema, o estabelecimento de limites, a garantia da confidencialidade, a explicação do processo) numa primeira sessão com os pais e na primeira sessão com a criança. Caso o vento (pais e motivação da criança) deixe e a água (relação terapêutica) comece a fazer o seu efeito, as sementes infiltram-se na terra e começam a brotar. Aos poucos. Devagarinho. Sem pressa. Com muita paciência. E as alfaces (a criança e a sua mudança) vão crescendo, vão-se modificando. Ao seu ritmo. Sem pressa. Crescendo tal e qual como são, numa terra (contexto) que se vai modificando para se seja fértil e produza alfaces saudáveis e equilibradas. Num clima de cuidado, de aceitação de como são, sem diretividade, apenas com empatia, interesse genuíno, atenção às suas necessidades e sentimentos. Este desenvolvimento, esta relação vai sendo regada com o regador (terapeuta e suas competências de responsabilidade, empatia, sinceridade, respeito, paciência, compaixão, interesse genuíno e aceitação) com todos estes nutrientes. Existem nutrientes que podem não ser favoráveis ao bom desenvolvimento das alfaces, como as expectativas do terapeuta, os sentimentos negativos da criança, e que podem não só não ser favoráveis, como bloquear o desenvolvimento das alfaces. Os tomates (frutos do contexto familiar) também brotam, com trabalho, com aconselhamento, com orientação através das estacas do terapeuta que lhes vão dando suporte, mas que também passam elas a ser colocadas pelos pais, com equilíbrio, para dar suporte à criança. E nascem frutos dessa relação, também ela tão importante e preditora de sucesso e de manutenção dos ganhos ao longo do tempo. Os pais começam a conseguir guiar e suportar os seus filhos ao longo do tempo, dando-lhes oportunidades de escolha. Uma horta depende também das condições atmosféricas como o sol, a chuva ou o vento (o contexto familiar, o contexto escolar, outras pessoas da vida da crianças, os acontecimentos de vida, as situações do dia-a-dia), que podem ser benéficos ou podem desequilibrar o processo. A horta precisa ainda de um espaço contido onde possa crescer, de um espaço, sempre o mesmo espaço, durante o mesmo tempo, sempre da mesma forma. O processo terapêutico também precisa de espaço contentor, através do espaço físico e mental, do tempo da sessão, dos horários, das regras e dos limites. Para que se possa desenrolar em segurança.

Na horta tudo cresce sem forçar. Com tempo e paciência. Sem pressa. Ao seu ritmo. No processo terapêutico também.

Aqui no Centro Paroquial do Estoril, temos uma equipa de psicólogas que realizam consultas de psicologia para a comunidade para adultos, jovens e crianças. Se procura ajuda, envie o seu pedido de consulta para psicologia@cpestoril.pt.

Mónica Dultra Carvalho
Psicóloga do Gabinete de Psicologia CPE e das Consultas Sociais

Morada

Rua Campo Santo, 441
2765-307 Estoril
Portugal
Tel: + 351 21 467 86 10
E-mail: geral@cpestoril.pt

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